Chega uma altura em que os pais já tentaram tudo. Começaram
por ter muita paciência, explicaram ao seu filho o que esperavam dele,
conversaram sobre os seus ataques de mau feitio, deram o exemplo não se
irritando nem discutindo em frente das crianças, explicaram quais as vantagens
do bom comportamento, fizeram reforço positivo nos momentos em que a criança se
portou bem…Puseram em prática, até, a regra de ouro de ignorar o mau
comportamento, agindo como se nada estivesse a acontecer…Mas nada resultou. As
birras são cada vez maiores, a chamada de atenção é constante,e agora,
inclusive, a criança parte muitas vezes para a tentativa de agressão física.
Está na altura de por em prática outra estratégia. E que tal
colocar de castigo? O problema é que colocar de castigo não é para todos os
pais. Só para os mais entendidos nessa arte. É preciso saber como atuar nessa
situação. É dessa arte que vamos conversar hoje. Aqui ficam dez conselhos.
1º Saiba o que significa “ficar de castigo”
Ficar de castigo significa que, durante algum tempo, a
criança fica sozinha num local, escolhido pelos pais, onde tem oportunidade de
se acalmar e pensar um pouco nas razões porque está ali. Uma atitude que pode
levá-la a modificar o seu comportamento numa próxima oportunidade. Esta
estratégia pode ser utilizada a partir dos três anos de idade.
Durante este período pode até ficar a brincar com algum
boneco preferido, uns legos, um puzzle, a ler um livro, a ouvir música ou a
tocar um instrumento.
2º Avise a criança que o castigo está a chegar
Se a criança se está a portar mal e colocar de castigo é uma
hipótese cada vez mais real, a primeira coisa a fazer é avisar a criança que,
se continuar com aquele tipo de comportamento, vai ficar de castigo. O aviso
pode ser um único, ou os pais podem recorrer à célebre técnica de contar até
três, aplicando o castigo quando este número é pronunciado. O aviso deve ser
dado num tom de voz firme e calmo. Gritar e barafustar (tipo birra dos pais)
apenas serve para distrair a criança daquilo que é realmente importante, para
além de ter o condão de, muitas vezes, a atiçar e piorar ainda mais as coisas.
3º Como agir nestas alturas
Se o aviso foi dado e nada se modificou no comportamento da
criança chegou a altura de a colocar de castigo. São proibidas as “ameaças” de
castigo, ou o “logo à noite vais ver…” e pior ainda o “quando chegar o pai vais
ver…”. Se chegou a hora de colocar de castigo, há que colocar de castigo. Ponto
final. Não é altura de negociação.
4º Qual a melhor atitude
Muitos pais, quando chegados a esta fase caem nos dois
maiores erros da disciplina infantil: muita explicação e muita emoção.
Alguns tentam explicar vezes sem conta à criança por que
razão se deve portar bem e por que motivo vai ficar de castigo. Tenham em conta
uma coisa: a criança não se está a portar mal por “falta de informação”. E não
é por explicar mais vezes, que este comportamento se vai modificar. Pelo menos
não nesta fase. Quando tudo estiver mais calmo, quando a crise for coisa do
passado, aí sim, devemos conversar com ela, analisar o sucedido, prever o que
fazer em situações futuras. Mas não agora. Se é tempo de castigo, a criança foi
avisada e nada fez para modificar o seu comportamento, é tempo de ação.
Outros pais ou mães comportam-se como se eles próprios
fossem ficar também de castigo. Algumas mães ficam nervosas, outras deixam cair
uma lágrima pelo canto do olho. Como se fosse possível uma criança ser sempre
bem comportada e colocar de castigo fosse equivalente a passar um atestado de
incompetência à capacidade educativa dos pais, por não terem sido capazes de
lidar com a situação. Nada disso. Se tudo foi feito de forma correta, muitas
crianças precisam, de tempos a tempos, de ficar de castigo. Para elas significa
que pisaram a corda, ultrapassaram o limite. Não as privem, por favor, desse
ensinamento precioso.
5º Escolha bem o local onde colocar de castigo
Onde colocar de castigo? A resposta é simples: onde
quiserem. Qualquer divisão da casa serve, desde que seja tranquila e não seja
perigosa. Pode ser no quarto dos pais ou no corredor. No hall de entrada ou no
quarto da criança, desde que este não seja uma central multimédia.
Nunca se esqueçam que o objetivo é, durante algum tempo,
separar a criança das coisas que considera “boas” para que ela possa acalmar e
perceber que não se portou bem. Como regra, devem ser evitadas a casa de banho
e a cozinha, que podem conter alguns perigos. Também não faz qualquer sentido
colocar a criança num local assustador (o célebre “quarto escuro”) pois o
objetivo não é assustar a criança mas sim retirá-la da nossa presença e
deixá-la acalmar e pensar sobre aquilo que fez de errado.
6º Esteja preparado para a eventualidade de a criança se
recusar a ir para o castigo
Se isso acontecer, só nos vai dar mais trabalho, mas também
se faz. Por vezes a criança resiste e é necessário “escoltá-la” até ao local
que foi escolhido. Devemos fazê-lo sem sermões, discussões ou mais irritações.
Calma e tranquilamente, levamos a criança pela mão, mesmo que esperneie. E
ignoramos os inevitáveis gritos, os protestos e as ameaças crescentes.
Especialmente ignoramos o “não me importo” ou o “não gosto de ti” que,
geralmente, significam o oposto.
7º O tempo de castigo deve ser adequado à idade da criança
Existe uma regra muito prática: um minuto por cada ano de
vida. Uma criança de três anos fica três minutos de castigo, uma criança de dez
anos fica dez minutos. Mas este tempo não tem de ser fixo, e em caso de
comportamentos muito graves ou reincidentes pode ser aumentado, muitas vezes
para o dobro.
Na criança com mais de dez anos podemos dizer-lhe “avisa-me
quando estiveres mais calma”, deixando que seja ela a controlar o tempo que
está de castigo. Se resultar, aumenta o seu sentido de responsabilidade.
8º Nunca se esqueça que sair do castigo sem autorização é
muito frequente
Se isso acontece, significa que a situação está a ir de mal
a pior e medidas mais drásticas têm de ser implementadas. Nas mais pequeninas
podemos ter de ficar sentados com a criança ao colo. Mas temos de nos comportar
como uma estátua, sem qualquer interação. Nada de conversas e explicações, que
apenas vão acentuar o mau comportamento e levar à exaustão dos pais. Apenas
segurá-la para que não saia dali.
Nas crianças mais velhas, sair do local deve significar ir
novamente para o castigo e o tempo recomeçar a contar. Caso isto se torne muito
frequente devemos aumentar o tempo de castigo ou partir para medidas mais
extremas como fechar a porta (sim, se preciso à chave) para que o tempo seja
cumprido. Muitos pais consideram “uma violência” fechar a porta à chave. Mas
rendem-se à evidência quando, após fecharem o quarto à chave uma ou duas vezes,
isso deixa de ser necessário: a criança percebeu que estávamos a falar a sério
e que o voltaremos a fazer se for necessário. Nessa altura a porta pode até
ficar aberta, que ela já não sai do local de castigo.
9º Se ela continua a
portar-se mal mesmo no castigo deve aprender com os seus erros
Uma das formas de manipulação mais frequentemente utilizada
pelas crianças consiste em partir para a agressão e começar a destruir objetos
assim que entra no quarto para ficar de castigo. A solução é simples: se existe
algo valioso ou perigoso, que possa ser quebrado, devemos retirá-lo do quarto
antes de a criança ser colocada de castigo. Tudo o resto pode ficar mas, se for
estragado num ataque de fúria, não será reparado tão cedo, principalmente se se
tratar de algum brinquedo ou jogo da criança. Funcionará como uma segunda
consequência natural do seu mau comportamento.
É também útil, nestes casos, avisar a criança que o tempo de
castigo só começa a contar depois de ele se acalmar. Com o tempo (e o número de
castigos) a criança perceberá que estamos a falar a sério e pensa duas vezes
antes de começar a dar pontapés na porta…
Da mesma forma, se ela desarruma todo o quarto, só pode sair
do castigo depois de tudo arrumado. Se não o fizer aconselho o método do “saco
do lixo”: a criança pode sair do castigo mas tudo o que está desarrumado é
colocado num grande saco e guardado durante uma semana. Na próxima vez ela vai
ter mais cuidado e, no mínimo, arrumar os brinquedos de que gosta mais…
10º Saiba como terminar um castigo
Passado o tempo que foi determinado para o castigo, e se a
criança está sossegada, devemos anunciar o fim do castigo. Não a devemos deixar
mais tempo no local, só porque entretanto se distraiu com alguma coisa. A única
exceção é se tiver adormecido. Mas, por outro lado, se após o nosso aviso ela
disser que quer continuar no local, deixamo-la estar e vamos embora. Não vamos
alimentar um mártir (outra forma de manipulação muito frequente).
Terminado o castigo, tudo deve voltar ao normal. Mais uma
vez, não podemos ceder à tentação dos sermões, atenções ou mimos suplementares.
Simplesmente atuamos como se nada se tivesse passado. O castigo, por si só, já
ensinou à criança o que ela tinha que aprender: que o mau comportamento não é
tolerado e tem consequências, que ela deve conseguir acalmar-se sozinha e de
que forma se deve comportar numa próxima vez. No entanto, uma conversa pode ter
lugar mais tarde e apenas se a criança é ainda pequena ou se a falta foi
especialmente grave. Nos outros casos é totalmente desnecessária, pois a
criança sabe perfeitamente que se portou mal, porque se portou mal e que não
deve voltar a fazê-lo. Muitas explicações apenas tiram força ao que acabámos de
fazer, pois parece que estamos a querer justificar a nossa atitude, como se não
tivéssemos a certeza de que está correta.
Sem comentários:
Enviar um comentário